COLUNA VAPT-VUPT (*)
A senadora Soraya Thronicke (PODE-MS) distribuiu sermões, na última terça-feira (13), durante reunião da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) das Bets, do Senado, no depoimento da influenciadora digital Vírginia Fonseca.
“O seu depoimento pode ajudar muitas pessoas a compreenderem o que se passa no nosso país em relação a isso, alertar, orientar e conscientizar”, iniciou Thronicke, em tom de advertência à influenciadora, que anuncia empresas de bets em seus perfis nas redes sociais.
Na prática, a postura de Soraya Thronicke na CPI das Bets se contrasta com proposta legislativa que ela apresentou, em 2023, sobre outro grave problema que afeta em cheio os brasileiros: o cigarro eletrônico.
A parlamentar é autora do Projeto de Lei nº 5.008, que prevê a liberação, produção e venda dos cigarros eletrônicos no Brasil, entre outras ações.
A parlamentar é autora de projeto de lei que pretende legalizar o cigarro eletrônico no país
“Nós temos uma obrigação, que é a de levantar todos os escopos desta CPI, que envolvem lavagem de dinheiro, evasão de divisas, a questão dos algoritmos desses aplicativos, a questão das propagandas, de influenciadores menores de idade e visa, além de tudo, melhorar a legislação”, explicou.
Ao mesmo tempo, o uso de cigarro eletrônico está associado a vários riscos para a saúde, incluindo danos pulmonares, problemas cardiovasculares, dependência de nicotina e aumento do risco de desenvolver câncer.
Se legalizado, o acesso ao vape seria permitido indistintamente, o que atenderia amplamente a indústria tabagista, que aposta nessa “nova embalagem” para substituir o cigarro comum.
Em maio de 2024, o lobby da senadora pelo cigarro eletrônico veio à tona da pior forma possível. Ela viajou à Itália, onde visitou fábrica da Philip Morris, com todas as despesas pagas pelo setor tabagista (ver aqui).
O uso de cigarro eletrônico está associado a vários riscos para a saúde, incluindo danos pulmonares, problemas cardiovasculares, dependência de nicotina e aumento do risco de desenvolver câncer
Reitere-se que a Agência Nacional de Vigilância Sanitária já negou a regulamentação do vape em pelo menos três decisões (ver aqui).
Por conta dessa questão, o MS em Brasília é processado pela senadora na Justiça do Distrito Federal.
Em dezembro do ano passado, Thronicke entrou com pedido de direito de resposta em razão de o site ter publicado vídeo sobre o vape, alertando para o projeto da senadora, que prevê a liberação desse “veneno” no país.
Ela não gostou da expressão “veneno”, mas seu pedido foi negado em primeira instância, no dia 7 de fevereiro deste ano (ver aqui), o que a levou recorrer ao Tribunal de Justiça.
Ao julgar o mérito da ação, o juiz Cleber de Andrade Pinto afirmou que “a Constituição Federal protege o direito à livre manifestação do pensamento, assegura o direito à informação e veda qualquer tipo de censura política, ideológica e artística”.
“As publicações questionadas não excederam o legítimo exercício da liberdade de expressão da parte ré, do direito à informação, tampouco contém conteúdo difamatório em relação a autora”, destacou o magistrado.
Por conta do vape, o MS em Brasília é processado pela senadora na Justiça do Distrito Federal
Na CPI das Bets, Soraya Thronicke é outra “cabeça”, se assim podemos dizer. Afinal, ele passou a maior parte do tempo tentando enquadrar a influenciadora.
“A senhora tem noção da responsabilidade social com seus seguidores?, questionou mais de uma vez.
— Tenho noção da responsabilidade. Por isso deixo claro, em todos os meus stories, tudo que tem que ser feito. Eu não faço nada fora da lei, nada que não está regulamentado, reitera Virginia.
A senadora insistiu sobre o risco de o jogo viciar jovens: “O jovem, geralmente, não percebe. Como é que ele vai saber se ele é predisposto para aquilo, né? Então, nós precisamos, juntos, encontrar uma solução, né?”, argumentou.
A resposta veio na lata: “Se realmente faz tão mal para a população, proíbe tudo. Por que está regulamentando? Proíbe tudo e acaba com tudo”, contra-argumentou.
“Eu não faço nada fora da lei, nada que não está regulamentado” — Virginia Fonseca
A imagem que tentou “vender” na CPI das Bets — cujo esvaziamento expõe a inutilidade do funcionamento desse colegiado — não colou. Quem a conhece sabe que os movimentos políticos e parlamentares da senadora são sempre duvidosos.
A pergunta que fica é: qual é a verdadeira Soraya Thronicke, a que pressiona as Bets sem fatos e elementos, com CPI esvaziada, natimorta, ou a que defende a legalização do cigarro eletrônico?
(*) Vapt-Vupt é uma coluna do MS em Brasília com opiniões sobre determinado fato de interesse público