COLUNA VAPT-VUPT (*)
Ex-secretário, subsecretário e assessor especial por mais de sete anos dos prefeitos Marquinhos Trad (PDT) e Adriane Lopes (PP), o vereador Maicon Nogueira (PP) acredita estar “fazendo diferente” ao explorar desgastada tática de políticos novatos de “fiscalizar” serviços oferecidos pelo município à população.
Nogueira tem publicado vídeos sobre suas idas a unidades de saúde, a garagem e a terminais de ônibus em Campo Grande, segundo ele, para “inspecionar” essas atividades.
A ação, contudo, visa tão-somente terceirizar a culpa pelo caos interminável nessas áreas, como se prefeita e secretários não tivessem quaisquer responsabilidades sobre tais problemas.
A ação visa tão-somente terceirizar a culpa pelo caos interminável nessas áreas, como se a prefeita e os secretários não tivessem quaisquer responsabilidades sobre tais problemas
Maicon Nogueira repete outros políticos fogueteiros, como os então deputado federal Loester Trutis (PL) e o vereador Vinicius Siqueira (MDB), por exemplo. Tais ações servem de marketing e promoção pessoal do parlamentar e nunca resolveram, de fato, os problemas da população.
A função principal do vereador é fiscalizar a atuação do prefeito e secretários, elaborar leis e acompanhar a execução do Orçamento, entre outras. Quem fiscaliza a concessão de transporte público, por exemplo, é a Agência Municipal de Regulação de Serviços Públicos, vinculada ao poder Executivo.
“O vereador tem o poder de ouvir o que os eleitores querem, propor e aprovar esses pedidos na câmara municipal e fiscalizar se o prefeito e seus secretários estão colocando essas demandas em prática”, diz trecho de um texto publicado pelo Tribunal Superior Eleitoral sobre o trabalho do vereador.
“O vereador tem o poder de ouvir o que os eleitores querem, propor e aprovar esses pedidos na câmara municipal e fiscalizar se o prefeito e seus secretários estão colocando essas demandas em prática”
Se, determinado serviço oferecido pela prefeitura à população estiver sendo feito sem qualidade ou com falhas, o vereador deve cobrar o chefe do Executivo, de preferência, na tribuna da Câmara, a partir de onde os fatos chegam ao conhecimento dos moradores.
Em todas as publicações dele analisadas pelo MS em Brasília, não há uma única menção ao nome dos grandes responsáveis pelos péssimos serviços oferecidos aos campo-grandenses, a prefeita Adriane Lopes, ou mesmo a secretária de Saúde, Rosana Leite de Melo.
O vereador tem preferido bater à porta dos locais de atendimento para encontrar culpados, possivelmente médicos, enfermeiros, ou mesmo seguranças e funcionários dos terminais de ônibus e de pátios da empresa de transporte.
Se, determinado serviço oferecido pela prefeitura à população estiver sendo feito de maneira imprópria, sem qualidade ou com falhas, o vereador deve cobrar o chefe do Executivo
Em 6 de abril, ele esteve em uma unidade de saúde, onde encontrou pacientes aguardando atendimento, quando teria cobrado o médico plantonista. Também disse que o local estava sem responsável. Ao final da postagem, ameaça a classe médica: “Não vou me intimidar. Já busquei as respostas junto a SESAU, junto ao sindicato dos médicos e junto ao CRM” (ver aqui).
Gestões danosas
Campo Grande tem sofrido há mais de década com gestões danosas, as quais começaram com Alcides Bernal, passaram por Gilmar Olarte e chegaram a Marquinhos Trad e Adriane Lopes, atualmente em seu segundo mandato.
Maicon Nogueira foi subsecretário e assessor especial do prefeito Marquinhos e da prefeita Adriane por sete anos e três meses, com curtas interrupções para disputar eleições. Foi braço direito de ambas as gestões.
“Não vou me intimidar. Já busquei as respostas junto a SESAU, junto ao sindicato dos médicos e junto ao CRM” — Publicação com ameaça a médicos, sem citar a prefeita, responsável por esse serviço
Nesse período, a Prefeitura de Campo Grande registrou os piores indicadores fiscais e econômicos. Em 2021, por exemplo, Campo Grande esteve à beira da insolvência financeira (ver aqui).
A cidade também recebeu seguidos alertas do Tesouro Nacional sobre a situação fiscal caótica durante os cinco anos e três meses de Marquinhos, cujos problemas adentraram a gestão de Adriane (ver aqui).
Além disso, houve uma série de denúncias sobre desvio de dinheiro público (ver aqui) e pagamento de supersalários a um grupo de servidores ligados diretamente aos prefeitos, a chamada folha secreta (ver aqui).
Maicon Nogueira foi subsecretário e assessor especial do prefeito Marquinhos e da prefeita Adriane Lopes por sete anos e três meses
Olhos fechados
Nogueira também estava como subsecretário e assessor especial de Marquinhos Trad quando o então prefeito utilizou programa social para empregar cabos eleitorais (ver aqui).
O Proinc é um programa da prefeitura que oferece oportunidades de trabalho a pessoas em situação de vulnerabilidade social. Na lista, havia empresários, influenciadores, comerciantes e profissionais liberais.
O último cargo ocupado na gestão de Adriane Lopes foi o de secretário municipal da juventude, embora tenha atualmente 39 anos. O político jovem envelheceu no cargo.
Deixou a função em março de 2024 para se candidatar a vereador. Foi eleito com 4.246 votos, cujos gastos declarados totalizaram R$ 195.680,00 — R$ 190 mil do fundo de campanha do PP e R$ 5.680 da prefeita Adriane Lopes.
Houve uma série de denúncias sobre desvio de dinheiro público e pagamento de supersalários a um grupo de servidores ligados diretamente aos prefeitos, a chamada folha secreta
Outro lado
Embora se trate de opinião do site, o MS em Brasília encaminhou pedido de esclarecimentos ao vereador sobre as razões de ele não mencionar o nome da prefeita uma única vez em suas cobranças sobre a má qualidade dos serviços na capital.
“Seus comentários me faz perceber que você não acompanha a política em Campo Grande. Fui o único vereador do PP a assinar o requerimento de abertura da CPI do transporte. Pedi quebra de sigilo bancário e fiscal de servidores públicos da atual gestão e gestão passada”, respondeu Nogueira.
E prosseguiu: “Não tenho indicados em cargos de secretário nem cargos de comissão na prefeitura. Eu poderia com certeza responder aos questionamentos que me fez. Mas a maneira como vc me abordou e como me julgou me faz entender que não importa o que eu diga ou o que eu faça, vc já tem a sua “opinião” formada. Isso é jornalismo?”, concluiu, sem explicar por que omite o nome dos responsáveis pelo caos na saúde e no transporte público.
(*) Vapt-Vupt é uma coluna do MS em Brasília com opiniões sobre determinado fato de interesse público